terça-feira, 28 de julho de 2009

Aulas de gravura

Como as coisas se movem do outro lado da janela... Ruas pontilhadas de chuva sob a luz amarelada, pó de ouro derramado a brilhar aleatoriamente. As teclas do piano tagarelando alegremente, não que fosse realmente um piano.. a musica artificial sempre parece sem vida, como a voz artificial que a interrompe anunciando a próxima parada.

Tento lembrar-me de algo interessante... aulas de gravura. Mas que é gravura? Talvez algo gravado em algum lugar, por algum motivo, de algum modo... a gravura gravada na gravação gravável do gravados que tem gravadas em si gravuras... talvez algo apenas marcado por todas essas marcas do tempo que nos fazem e nos dão versos... talvez um muro borrado de varias cores.. ou um céu de tarde... algo que grave, marque ou ate seja gravado em si, por algum tempo ou para sempre...

Não... não sei o que é gravura, mas gosto de imaginar que eu a seja.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Almoço

- Sua comida está esfriando, Alice.
Ela observava seu prato com o olhar perdido, o garfo e a faca parados no ar, enquanto fragmentos de conversa se misturavam à seus pensamentos borbulhantes.Observava os gestos espontâneos e um tanto indelicados de Cláudia. Apesar da rigidez e a cara de poucos amigos, aquela mulher dava tudo de si pelos outros. Devia ter seus próprios problemas, mas deixava-os de lado para cuidar de uma família que não era dela. Cláudia podia resolver qualquer coisa, podia ser tão áspera quanto gentil, era difícil imaginar Onésio vivendo sem ela.
O meio tom da conversa silenciou subitamente, as cabeças abaixadas demonstravam que chegara-se ao assunto corriquenho daqueles dias, ninguém falaria mais nada por algum tempo.
Completamente alheia , Alice apenas observava, colhia expressões inconscientemente, absorta em seus próprios pensamentos, não tinha muita fome , mas mal podia esperar para fazer um bolo com Claudia, não que gostasse muito de cozinhar, mas estando com ela sentia-se menos sozinha. Os talheres retiniam quebrando o silencio e os pratos se esvaziavam. Quando todos se levantaram, Alice fitou ansiosa o rosto de Cláudia que lhe sorriu.
- Me ajude com a louça e logo começamos.
- Certo!
A agua da torneira cortava o silencio e tudo voltava a ser apenas dia.



quarta-feira, 1 de julho de 2009

cinza



Hoje escrevo...
não sei.. mas escrevo.
e havia uma garotinha..
ela tinha um grande cachorro branco...
seu pelo chegava a brilhar, branco como a neve
(e é dificil encontrar um cachorro assim)
e a garotinha sorria por dentro,
sorria de como amava seu cachorro branco...
de como seu pelo era macio e bonito
de como o dia era claro e a grama verde.
acho que aprendi algo com eles...
as pessoas, depois que crescem,
tornam-se ignorantes às coisas belas
quisera aprender mais, mas por descuido, abri os olhos
agora são só paredes mofadas
mas vejo o caderno em minhas mãos
vejo que escrevo, mas por que escrevo?
mesmo sem saber... por que?
talvez porque hoje é cinza.